Comunidade Tunuí Cachoeira, 7 de outubro de 2020
Meu nome é Ronaldo da Silva Apolinário, da etnia Baniwa, tenho 36 anos de idade, sou liderança e agricultor, nasci, cresci na comunidade de Tunuí Cachoeira, no médio Içana I, que está no Rio Içana, afluente do Rio Negro. Continuo morando na mesma comunidade, onde finada minha mãe morava.
Minha mãe chamava dona Darlene Benjamim da Silva, tinha 60 anos de idade, pertencia à etnia Baniwa, era agricultura, adorava trabalhar na roça todo dia, apesar que tinha seus afazeres em casa. Gostava fazer beiju, farinha, tapioca e tucupi. Na sua roça plantava banana, cubiu, abiu, batata, cará, ariá, pimenta, abacaxi e mandioca brava etc.
Ela era exemplo de amar seus próximos, oferecia qualquer coisa, comida a pessoa que entrou na sua casa. Compartilhou bastante seus conhecimentos na questão de plantas medicinais tradicionais. Não tinha hora determinada: ajudava sempre quando ela escutava que havia um paciente na comunidade e cabia a ela amparar. Fazia parte de parteira. Ela sempre cuidava de seus filhos ensinando a viver no mundo através de respeito um ao outro, orientava-nos a usar as plantas medicinais, como trabalhar na roça, como fazer beiju, farinha e outros derivados da roça.
Minha mãe nasceu na comunidade de Castelo Branco, um pouco próximo da nossa comunidade, localizada rio abaixo. Falava Baniwa e português, casou-se com senhor Eracito Apolinário, tinha 8 filhos, mas com perda de um filho ficaram apenas 7 filhos, os quais estão em vida ainda, tem 6 netos e não tem bisneto.
Ela pegou a Covid-19 em sua casa, ela não saía em algum lugar, talvez alguma pessoa que estava com a doença fez contato com ela. Não foi levada para o hospital, pois estávamos longe da cidade. Ficou em casa mesmo porque não teve presença de um médico para fazer avaliação se era pandemia. Como os sintomas eram desconhecidos, não sabíamos o que e quais medicamentos para medicar, como remédios ocidentais. O que usávamos era só remédio caseiro, mel de abelha com chá, limão, dente de alho, caranã pauba e outros.
Ela não fez teste rápido por ausência de equipe de saúde na comunidade, mas ela fez quando já estava morta. Ela morreu no dia 19 de maio às 12 horas da noite. A despedida foi na casa onde morava e teve velório, foi enterrada no cemitério próximo à comunidade.
(Relato de Ronaldo da Silva Apolinário sobre sua mãe Darlene Benjamim da Silva)